A
questão da acessibilidade é tema cada vez mais relevante e presente em nossa
sociedade. Seus primeiros passos para a inserção no cenário social foram dados na
década de 1960, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, quando surge na
arquitetura o conceito de projetos livres de barreiras, com foco nas pessoas
com deficiência física e maior ênfase naquelas em cadeira de rodas.
Nas
décadas seguintes, em decorrência dos avanços tecnológicos e sociais, o
conceito de acessibilidade ganhou novos contornos e dimensões e culminou, no
Brasil, com aquele trazido pela Lei nº 13.146/2015 (Lei Brasileira de Inclusão
- LBI). A LBI conceitua acessibilidade como possibilidade e condição de alcance
para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários,
equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação,
inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e
instalações abertos ao público, de uso público ou privados e uso coletivo,
tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade
reduzida.
Além
da conformação no ordenamento jurídico infraconstitucional, o direito à
acessibilidade, por força art. 5º, § 2º, da Constituição Federal, está contido
no rol dos direitos fundamentais.
Considerando
a atual definição de acessibilidade é possível entender que a mesma não se
refere apenas aos espaços físicos, como é mais comum que seja considerada, mas
também aos aspectos sociais. Assim, é direito fundamental da pessoa com
deficiência o acesso aos espaços físicos sim, como forma de garantir seu
direito à liberdade. Todavia, também lhe é conferido, por meio de seu direito fundamental
à acessibilidade, o direito ao lazer, à educação, à saúde, ao trabalho, entre
outros, como forma de garantir sua plena e efetiva inclusão social.
Face
ao alcance desse conceito, é de se estabelecer que o mesmo é dinâmico, ganha
novos contornos ao longo do tempo e deve ser considerado desde seu aspecto
físico e concreto, até o atitudinal.
Da
mesma forma que a acessibilidade possui diversas facetas, as barreiras que
surgem em seu caminho a todo tempo também possuem diversos aspectos. Um desses aspectos
refere-se às atitudes.
Pereira
et al (2011) consideram que as atitudes da sociedade podem ser facilitadoras do
processo de inclusão, pois poderão incluir na sociedade a pessoa com
deficiência. Todavia, podem gerar barreiras que ocasionarão sua exclusão. As
atitudes de exclusão, caracterizadas como barreiras, trazem em seu bojo a
discriminação, os estigmas, os estereótipos e os preconceitos.
Diante
do aspecto atitudinal e como aliada da inclusão social, a acessibilidade não se
restringe a promover acesso a lugares ou tecnologias, mas também a combater as
atitudes estereotipadas, discriminatórias e preconceituosas.
Atitude
como essas levam a que, em muitos países, pessoas com deficiência sejam
encaradas como algo vergonhoso, como vítimas de uma maldição ou até mesmo uma
punição de Deus. É comum pessoas esconderem familiares com deficiência em casa,
impedindo-os de ter uma vida em sociedade. Mesmo quando não há vergonha, existe
um senso comum de que pessoas com deficiência são incapazes de viver uma vida
normal.
Além
do âmbito familiar, o preconceito com relação às pessoas com deficiência é
percebido na sociedade em geral. Vem muitas vezes imbuído de sentimento de
negação, ou seja, a deficiência é vista apenas como limitação ou como
incapacidade. A sociedade, embora tenha um discurso que prega a inclusão social
de pessoas com deficiência, ainda as vê pelo que não têm, ou pelo que não são.
Não olha os sujeitos que têm deficiência pelo que têm ou pelo que são. Neste aspecto,
a pessoa com deficiência auditiva é aquela que não ouve, a pessoa com
deficiência visual é aquela que não enxerga. Ou seja, aproxima-se da
deficiência a partir da negação. A pessoa com deficiência é sempre aquela que
não tem ou não apresenta alguma capacidade que outra tem ou apresenta. Dessa
forma, o sentimento de negação pressupõe sempre uma atitude e um comportamento que
traz para esse grupo sérias consequências como exclusão, marginalização,
discriminação, entre outras.
Segundo
Vivian Alt, estas noções geram uma série de problemas. O primeiro é o impacto
do preconceito na formação da personalidade desse grupo de pessoas. A vergonha
acaba gerando um processo dialético, no qual a ideia de incapacidade (ou
maldição) é internalizada pela pessoa. Tendo ouvido durante toda sua vida que
são incapazes e um fardo aos familiares próximos, indivíduos com deficiência
internalizam esse sentimento de inferioridade e, consequentemente, estão mais
suscetíveis a problemas de baixa autoestima.
O
segundo problema é a ausência de políticas públicas específicas. Uma vez que há
vergonha, não há incentivos da população para que o governo desenvolva
programas sociais voltados a este grupo populacional.
Diante
disso, qual o caminho a trilhar?
No
dizer de Régis Eric Maia Barros, “para confrontar com algo tão poderoso como o
preconceito, precisaremos atacar a sua estrutura histórica a fim de trazer uma
nova perspectiva reflexiva sobre a matéria para os grupos e para a sociedade.
Portanto, ao invés de simplesmente punirmos e nos afastarmos num ato de “lavar
as mãos”, precisaremos, em busca de maior eficácia, nos aproximar da questão
com posturas educativas. Para que a nova percepção social seja implantada
minando o componente apaixonado do preconceito, será primordial a informação e
a educação. Isto ocorrerá paulatinamente e não de um dia para o outro. A
informação com novos conceitos sobre a questão preconceituosa deverá chegar à
sociedade de maneira sistemática. Assim, é possível mostrar o destoar daquele
pensar preconceituoso o qual será substituído por um novo pensar capaz de
acolher as diferenças e de eliminar o olhar eugênico do anterior. Para isto, a
informação deverá chegar de maneira correta permitindo uma maior compreensão. ”
Diante
dessa acepção, percebe-se que o processo de inclusão não deve ser imposto
apenas pela força da lei ou da política, mas complementado por meio da educação,
da conscientização da sociedade acerca das habilidades, das capacidades e das
potencialidades desse grupo de pessoas.
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